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24 Horas Portugal 2018




Hobalhamadeus, que é isto?

Mais um ano, mais uma corrida de 24 horas em Vale de Cambra.


Pela quarta vez participei nesta prova que conta com 5 edições. Só tenho pena de não ter participado na primeira edição, mas também se o tivesse feito (caso soubesse da existência) e eu só tinha começado nestas andanças das corridas uma ou duas semanas antes na corrida do Avante em 2014, ficaria por terra e ao pensar sequer em participar numa prova destas internar-me-ia certamente por falta de juízo hahahaha.

Diga-se de passagem que se eu tivesse ouvido falar nesta prova nessa altura nem sequer tinha ligado porque seria coisa de loucos...e é mesmo, apesar de estarmos em 2018 hahaha!


Dia 7 de Setembro (véspera da prova) pelas 19h30m rumo juntamente com a minha mulher a Vale de Cambra para poder descansar na noite anterior, pelo menos da viagem de 260 km já que a prova só começa às 12 horas de sábado dia 8, terminando também às 12 horas de domingo dia 9 numa duração de 24 horas entre corrida, andanças, arrasto, corraminhar, quase chorar e rir, um pouco a enlouquecer e a engrandecer...um pouco de tudo deste que termine após as 24 horas...tudo vale!


Claro que a noite de descanso que tanto queria não aconteceu como habitualmente...adormeço perto da meia noite até à 1 da manhã onde o vento chapava portões e gradeamentos me acordou e despertou. Lá começou a ansiedade que esta prova me provoca a trabalhar na minha mente. De tal maneira que acabo por ir ler das 2h30m até às 4 horas adormecendo de seguida para acordar às 7 horas com uma "moca" de sono que só visto.


Mas pronto, lá me despachei para tomar o pequeno almoço e descer para o Parque Urbano de Vale de Cambra para montar a tenda e preparar-me para iniciar a prova. Lá me foi valendo o apoio incondicional da minha mulher que atenciosamente me foi martelando a cabeça durante toda a prova para eu ir descansando, ir comendo e ter cuidado e tal e coisa e...hehehe.


Dorsal levantado, tenda montada, equipamento vestido, cumprimentos feitos às caras conhecidas ano após ano, aos diretores da prova Vitor Dias e João Paulo Meixedo, ao speaker Hugo Água, Elena Iabanji, Jorge santos, Zé Lourenço, Carlos Rocha e mais uma série de malta que se conhece nestes anos todos e nos revimos sempre por aqui nesta andança.


A temperatura que esperava que fosse bem mais fresca tal como se adivinhava na véspera logrou-se descaradamente pois estava um chamado calor do "caraças" às 12 horas na partida. Alinhamos na prova a solo das 24 horas 56 atletas ansiosos e esperançosos de terminar. Briefing feito, algumas pequenas entrevistas pelo Hugo Água aos nomes de maior relevo e lá partimos à hora certa.


Como habitualmente faço os primeiro 42 km sem parar, após os quais vou finalmente comer, descansar uns minutos para de seguida retomar novamente. Para além de comer no espaço do Paddock (área reservada ao descanso e à comida dos atletas e acompanhantes) ainda havia um abastecimento a meio do percurso a cerca de 1 km, junto à pequena, mas bem tratado quinta pedagógica lá existente. Abastecimento este que para além de água também tinha isotónico da Gold Nutrition, coca cola, batatas fritas, bolos, marmelada, aletria, banana, laranja, melancia e bolachas sempre em abundância no qual de duas em duas voltas parava para comer algo e sempre beber e refrescar-me.


O calor abrasador que se fez sentir depressa começou a fazer mossa em alguns atletas mais distraídos, pois o desgaste acentuado pela desidratação começou a picar na entrada da noite onde apesar de estar bem mais fresco e de já ter ameaçado com uns pingos de chuva e uns belos trovões o cansaço geral era evidente.

Eu lá fui indo sempre fiel ao meu passo onde inicialmente foi entre 5:40 e 6:30 nos primeiros 42 km passando entre 6:30 e 7:00 nos seguintes e durante a noite rondou entre os 7:00 e os 8:00 passando para os 7:00 e 7:30 quando nasceu o dia. Fiz em 7 etapas, logo subentende-se que descansei cerca de 6 vezes, duas delas cerca de 45 minutos. As etapas foram de 42 km, 19 km, 19 km, 19 km, 19 km, 14 km e 15 km onde finalmente descanso após ter terminado com as lágrimas nos olhos as 24 horas a correr.


A privação do sono durante o período noturno este ano foi deveras doloroso. Como tinha descansado praticamente nada, a partir das 23 horas sempre que passava a caminhar fechava os olhos e quase tombava obrigando-me a corraminhar com frequência hehehehe, onde assim me passava o sono. Até às 7 horas da manhã quando o dia começava a despontar no Parque Urbano foi um tormento alucinante mesmo. E digo alucinante porque volta na volta tinha uma espécie de visões. É natural nestas situações o sentimento de que vem sempre alguém atrás quando na verdade não existe ninguém, apesar de estar a ouvir os passos e eu encostar para poderem passar...mas passar quem???? Só se for a minha cabeça hehehehe. Claro que também havia malta a passar por mim e eu por eles numa comunhão reciproca. Mas também durante a noite não se viam muitos atletas em pista...


Para além da prova das 24 horas a solo também havia em equipas de 4 assim como 4 provas de 3 horas a solo e em equipas.

O incrível no meio disto tudo é que toda a gente apoia toda a gente fazendo dia e noite uma constante presença, umas vezes mais assídua que outras de incentivos. A minha mulher sempre incansável no meu apoio ajudando-me no que podia assim como no que eu lhe pedia que me trouxesse da tenda para eu não ter de perder tempo a deslocar-me para lá.


Durante o percurso é muito frequente ouvir histórias de provas e peripécias de todo o feitio, também se fala nas (tão mal afamadas) lesões, umas mais graves que outras. Nos grandes feitos e nos pequenos feitos, da vida, de sonhos e esperanças...é uma prova que se faz efetivamente numa maior percentagem com a cabeça e menos com as pernas apesar dos muitos kms.


Quando atinjo os 130 km oiço o Speaker anunciar: "Vamos ver se o António Lopes, o homem da Glória do Ribatejo consegue passar a marco do ano passado dos 136 km". É claro que isso entusiasma ainda mais! E eu que já tinha tudo controlado para atingir (esperançosamente) os 140 km, mas mantendo a reserva da dúvida. Fico muito contente ao passar dos 132 km e saber que tinha tempo para descansar ainda e continuar a correr mais um pouco.


A estratégia durante a prova e a partir da noite foi de correr 2 terços do circuito e caminhar entre os 10:00 e 11:30 o km durante o terço restante. Aproveitava a altura de caminhar no local onde subia ligeira e gradualmente. O que nas 69 voltas ao percurso de 2,100 km totalizou cerca de 910 D+. Parece mentira, mas a altimetria num circuito que é em tudo praticamente plano se torna numa altimetria até generosa para a prova que é. Isto porque temos de subir 3 pontes de madeira em cada volta (e para mais o fim já pareciam 3 montanhas hehehe) e uma ligeira inclinação no terreno durante cerca de 500 mts.


Chego aos 140 km e cada vez mais contente já sonho com os 142 e os 144. Cada volta dada era, assim como os demais atletas mencionados pela sua performance no seu decorrer destacando quem passava certas fronteiras e metas, tais como os tempos do ano anterior, sobre o qual fui algumas vezes mencionado principalmente após ter batido o meu recorde pessoal nesta prova que era de 136 km.

Eram 11:45 quando fiz os 144 km acompanhado fantasticamente nos últimos metros pela a minha mulher e onde lhe disse que ainda tinha tempo para fazer mais uma volta hehehe. "É claro que vais, já estava mesmo à espera disso..."


Termino orgulhosamente a prova das 24 Horas Portugal com 146,970 km (147 km) na 12ª posição da geral e em 5º do escalão no meio de 56 atletas e para além de uma bela e grande ovação pelos presentes e dos parabéns lançados pelos mesmos tenho a minha Dina na meta à minha espera com a lágrima no canto do olho assim como eu!


Quero aqui agradecer a toda a organização que se tem mostrado cada vez mais excelente e mais minuciosa na elaboração da prova, em todos os voluntários, bombeiros, equipa médica e de fisioterapia que felizmente não necessitei do seu apoio e auxílio, mas sabia que eles estavam lá, em particular ao João Paulo Meixedo e ao Vitor Dias e ao Speaker que incansavelmente falou e falou e voltou a falar quase durante 24 horas fazendo o elo de ligação entre os atletas e seus tempos e algumas curiosidades de cada um. Não invejo a posição dele, pois se fosse comigo já estaria rouco antes mesmo de ter começado a prova...hehehehe...antes correr!


Estou orgulhoso de mim!

Apesar de sentir que não estava devidamente preparado por várias razões, consegui superar-me e alcansar um novo recorde pessoal para esta prova!


O meu muito obrigado a todos, estava tudo excelente!


Até para o ano 24h Portugal!

Hobalhamadeus...que tareia hehehehehe

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