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UTSM 100k 2017


Hobalhamadeus, que é isto?

Nem sei bem como começar...talvez pelo formigueiro crescente que ruminou no meu peito uns dias antes da prova ou pelo aumento de ansiedade nos momentos antes de começar. Sim, acho que começarei algures por aí!

Aproximava-se cada vez mais da hora de arrancar para Portalegre e cada vez mais sentia uns picos no peito e a visão a querer toldar...nada de anormal, era a ansiedade que me tinha visitado e montado acampamento, tudo bem!

Olho para a listagem feita com o material necessário para a base de vida, para a minha mochila, para o banho e para...sei lá mais o quê. Quase parecia que ia mudar de casa, tal não era a quantidade de traquitanas que levava...também não estava com ideia de andar com muitas delas às costas. Mas gosto de levar caso venha a ser necessário, pelo menos está no carro e não em casa. hehehe

Para me acalmar ia pensando que não era a minha primeira prova de 3 dígitos e que já sabia mais ou menos o que me esperava. Ainda por cima o ano passado tinha feito esta prova na sua versão de 60 km, logo sabia a dificuldade que me esperava, mas tudo tranquilo. O pior seriam mesmo os 12 km até às Eólicas (pensava eu) e depois a última subida até ao Castelo de Marvão, depois até ao final quase que não tinha altimetria... (novamente pensava eu)...

Reunidas as condições de logística e reunidos os dois amigos que me acompanhariam até Portalegre, Rui Pereira e Marco Domingos, lá fomos entre algumas dúvidas até ao estádio de futebol de Assentos onde se encontrava toda a máquina que daria início ao UTSM 2017.

Chegamos por volta das 21 horas e após termos levantado os dorsais fomos ter com a malta do Concelho de Salvaterra de Magos e amigos acompanhantes. Jantamos e conversamos e fomos de volta para o Estádio. Mais minuto, menos minuto lá nos equipamos e entregamos as mochilas para serem enviadas para a base de vida em Marvão e começamos a encontrar amigos. Luís

Silva, Rui Brilhante, Manuel Vitorino, entre tantos amigos, mais os que foram comigo e os do Concelho...Enfim, os "maluquinhos" do costume!

00h00m em ponto dá-se a partida desta mítica prova de 3 dígitos...siga!

Começamos com uns bons 5 km sempre a subir mais uns 4 entre o subir e a descer até ao Reguengo onde estava o PAC 1 por meio de dezenas e dezenas de pessoas que nos iam saudando e aplaudindo.

Pra início já começava a deitar os bofes pela boca...já????

Daqui seguimos em direção a Alegrete e eu penso que ao chegar lá começo a usar os bastões como no ano passado, mas mais uma vez a organização traçou nos trilho e imperavam as subidas e quase a seguir ao Reguengo saco dos ditos e lá vou tic, toc, tac, tec por aí fora... Quando termino a subida ao castelo de Alegrete já eu estava quase transtornado com as subidas...fónix...e ainda vamos em 21 km. Ainda por cima houve um ligeiro contratempo pois cerca de 60 atletas enganaram-se no caminho e fizemos cerca de 700 mts a mais...retiraram algumas fitas num cruzamento e foi por tentativas que encontramos novamente a rota...mas lá fomos.

Alegrete é bonito à noite, muita gente a aplaudir e a ver. Era um constante de simpatia pelos voluntários do PAC...assim como se verificou em todos os PAC's vindouros! Rumo em direção ao PAC 3 Eólicas e antenas onde os escuteiros, mais uma vez nos brindaram com a sua presença e as suas cantorias de ânimo pelo meio da subida...cerca de 12km a subir para descer logo de seguida e menos de 10 km. Não sei o que me custou mais, se a subida lenta se a descida desgastante e pouco mais rápida.

Por entre os km's que se iam acumulando ainda tivemos tempo para apanhar com duas "paredes" de cerca de 1 km cada com um declive de 46% (diz a organização...só malandragem hehehe), onde se numa demorei 30 minutos a subir, na outra já demorei 40...o que me valeu foi a companhia do meu amigo Manuel Vitorino que ia dando ânimo e distração com as nossas conversetas e constantes observações paisagísticas da Serra.

Seja como for lá chego a Marvão, PAC 6 desgastado e muito cansado com mais 2 horas do que eu demorei o ano passado aqui...como desenfreadamente melancia e laranja fresca, água e coca-cola, isotónico e volto a repetir tudo mais uma vez e outra...depois sento-me e como uma sopa de legumes quentinha.

Sigo para a área dos sacos de troca de roupa e afins e começo a sentir-me zonzo e fraco e mal disposto e eu: - mau, que é isto agora? Ainda mal e porcamente de roupa mudado lá sinto a necessidade de vomitar tudo o que tinha ingerido...pronto, já está! Faço tudo o quanto tenho a fazer depois de ter ponderado muito em se seguia ou não resolvi testar-me. Apesar de muito fraco, não tinha mais sintoma nenhum...também eram só mais 17 km até ao próximo PAC debaixo de 35 graus pela serra, nada de especial...fo#"%$&$#$&%$#"#se!

63 km estavam feitos.

Fui muito cautelosamente progredindo (se é que se pode chamar isso de progressão), aproveitando todas as sombras e as 3 fontes que encontrei pelo caminho onde refrescava a cabeça e corpo molhando-me antes de seguir viagem. Tomo um gél em três partes para ter um mínimo de energia e para saber se o estômago o aceitava. Tudo bem, aceitou!

Ao chegar a Castelo de Vide, PAC 7 aos cerca de 80 km refresco-me mais uma vez enfiando gelo na camisola e por baixo do boné e volto a comer melancia e laranja...nada mais para além de água e isotónico.

Sigo um pouco mais restabelecido até ao PAC 8, mas com tanto calor pelo caminho o que me safou e aos outros atletas que iam passando foi a amabilidade de duas senhoras numa casa algures perto de nenhures junto a um local improvável ao km 85 que iam perguntando se nós queríamos refrescarmo-nos...um belo e fresco tanque de água num sombrio e animador quintal com água corrente...a vontade era mesmo ir lá para dentro hehehe. Uma simpatia estas senhoras que ajudaram todos os atletas que lá passaram. Formidável, ainda há gente boa por este Portugal fora!

Lá se foi avançando a começar a acusar a completa falta de energia, mas ia-se gerindo conforme se podia. No PAC9, casa de turismo rural estava eu com 93 km no pêlo, encontro o Francisco Naia e o Paulo Cação e aproveito para sentar e descansar 10 m, tentar conversar e entre muita laranja e um bocadinho de pizza e mais coca-cola vou descansando. Molho a cabeça e sigo para o último posto de abastecimento e controlo que era a cerca de 4 km...ui ui...só que grande parte era a subir, embora não com muito declive o esforço era enorme. Foram 4 km que mais me pareceram 10 km...

PAC 10. Aí como mais e bebo muito mais ainda e devoro uma boa quantidade de melancia. Aproveito e encho os dois soft flask com água fresca e vou à mangueira deixada propositadamente para os atletas e quase que tomo banho hehehe.

Estou com 97 km...parece mesmo que estou quase a terminar, mas mais 7 km é uma distância tão longa...bolas...

Curiosamente sempre que não estou a subir, mesmo que seja apenas um ligeiro declive, até vou correndo (se é que se pode chamar aquilo de correr, já fiz caminhadas bem mais rápidas hahaha)

Os últimos 4 km faços mesmo a correr sem caminhar...a faltar 3 km encontro dois atletas aos quais acompanhei até ao fim. Fim esse que já dentro do estádio ainda tivemos que correr à volta da pista até terminar no pórtico. Aqui ainda consegui baixar dos 4 m/km momentaneamente. Foi um impulso de adrenalina que interveio nos músculos...rapidamente se esgotou ao cortar a meta. Finalmente a meta! A tão desejada e amaldiçoada meta! A tão temida e amada meta! A Meta!...

Terminei com as lágrimas nos olhos e esgotado e cheio de sede e de pernas bambas a abanar ao sabor do vento...hehehe

Foi um momento efusivo na minha mente quando terminei. Consegui terminar dentro da hora limite, embora em muito mais tempo do que esperava, mas também toda a gente fez muito mais tempo do que o esperado...e o esperado foi mesmo 4300 D+/4300 D- em 104,400 km com 20h17m38s!

Dos perto 500 atletas inscritos creio que só cerca de 400 e poucos iniciaram, terminando apenas 285 dos quais eu fiquei na 176º posição.

Trouxe de lá um vigoroso e valente empeno! Um dia de superação dos meus limites sempre em consciência das reações do meu corpo...um dia magnífico!

Hobalhamadeus!

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