Hobalhamadeus que é isto?
Era véspera da prova e já um nervoso miudinho se apoderava de mim e ainda só estava na hora de almoço. Provavelmente seria fome hahaha ou talvez não.
Bem, feitas as contas e já com toda a gente preparada para arrancar rumo ao Alentejo e fazer o melhor possível a viagem de 210 km até lá decidindo partir pelas 15 horas. Uma hora tranquila para conduzir até ao Alentejo raiano, a tão afamada fronteira luso-espanhola. Barrancos em todo o seu esplendor com a sua tão caraterística linguagem barranquenha, vila esta muito tranquila, mas cheia de gentes simpáticas e muito adepta da prática desportiva.
Chegamos lá perto das 17 e 30, eu a Dina Barroso, a nossa filha, a Maria João e o filho. Foi desentorpecer as pernas e instalarmos no Hotel Agarrocha e deslocar logo para o levantamento dos dorsais que era ali bem pertinho junto ao campo de futebol.
Posso neste caso dizer que fui o primeiro da prova dos 40 km hehehe, calma...o primeiro a levantar o dorsal e o kit de atleta hehehe. Um kit de luxo e muito agradável cheio de coisas interessantes sobre a região.
Dia 18, a manhã chega cedo despertada pelo o sol raiano. Logo após o pequeno almoço dirigimo-nos para o local de partida onde eu iniciaria às 9 horas para a prova longa e a Dina e a Maria sairiam meia hora mais tarde para a prova média. Siga...
Cumprimento o Ico Bossa e vou vendo aqui e ali alguns atletas que embora não os conhecendo bem, são caras que de uma forma ou de outra já se cruzaram comigo algures por aí. Alinho na partida um pouco ansioso para esta prova que se previa um pouco mais difícil que nos anos anteriores na versão transfronteiriça. Para mim tanto fazia pois era a primeira vez que vinha aqui, mas a malta que já conhece o terreno e a zona envolvente transparece algum receio mais pelo terreno seco...
Ao longe ainda vislumbro o Jorge Martins no alto do miradouro a ver a partida da prova longa...
Acompanhado pelos presuntos pendurados no pórtico de partida inicio a prova com um pouco de frio...que nem 1 km após já transpirava e o calor já tinha fugido a 7 pés hehehe.
Assim que saímos da vila e numas descansadas centenas de metros começamos a subir uma bela "parede"...bem, começamos mesmo bem. Começo logo a ver o filme todo e lembro-me de no dia anterior ao chegar a Barrancos olhar para a serra sintir que teria de subir e subir e descer e descer bastante. E assim foi, não se logrou o intento hehehe
Tivemos uns iniciais 9 km até ao primeiro abastecimento que tinham tanto de técnico como de belo junto à margem da Ribeira da Murtega num serpentear frenético onde os trilhos se iam revelando cada vez mais difíceis tanto pelo declive do terreno como pelo emaranhado de ramos que tanto brotavam das rochas como do solo num bailado fantástico quase extraterrestre até termos de "escalar" literalmente em certas zona para poder progredir e ultrapassar mais esse obstáculo. Simplesmente adorei!
Passamos pela fonte e o moinho da Pipa na Ribeira da Múrtega entre a Vila de Barrancos e o Castelo de Noudar, uma paisagem deslumbrante sem dúvida, pena só a falta de água.
No primeiro abastecimento passamos a primeira vez a margem do rio para o outro lado onde tristemente nos apercebemos que sobre as pedras que corríamos noutros tempos água abundante correria livre. Aqui dividiam-se as duas provas indo os 40 km em direção ao Castelo de Noudar e os 21 km em frente.
Faço uma progressão tranquila e satisfeita junto à margem do rio durante uns quilómetros até me deparar com um "paredão" que subia, subia tal qual o balão do João...até ao altaneiro castelo de Noudar que repouso bem no cume da serra desdenhando os audazes atletas que invadiam o seu território.
Chegado lá a cima a vista era simplesmente brutal, assim como o cansaço hahaha. Aqui ouve alguma confusão e descontentamento generalizado visto que para avançarmos foi necessário subir a sua torre e descer pelo mesmo acesso para que se efectue o controlo lá em cima, mas tanto a subida como a descida só dava para um atleta de cada vez e os mais apressados manifestaram o descontentamento...
Seguimos dali a descer até encontrarmos a Herdade do Monte da Coitadinha onde se encontrava mais um abastecimento à sombra. Estávamos com cerca de 22 km. Um local muito agradável onde encontrei o meu amigo António Gonçalves. Lá me hidratei e comi alguma coisa, abasteci de líquidos e rumei com destino ao final...Passo pela Choça de Noudar (nem me lembro bem se foi antes da herdade ou depois hehehe). Passamos junto ao rio Ardila que faz fronteira com Espanha e vamos lá avançando entre subidas e descidas.
Mais ou menos perto do km 25 encontro outro atleta que se veio a revelar uma excelente pessoa que me fez companhia até ao final dando-me força para continuar tanto pelo ânimo como pela agradável conversa, era o Manuel Mexia. Muito obrigado amigo pelo apoio até ao final não me deixando fraquejar!
Chegamos novamente ao outro lado da margem da Ribeira da Murtega através de uma ponte branca que não sei o nome, mas era perto do km 31. Mais um abastecimento, mais uma subida até a uma casa que segundo me disseram era a casa dos pais do Ico Bossa, ou outros familiares perto do km 36. O certo é que o pessoal era bem simpático e não nos deixaram sair de lá sem comer nada hehehe. Descansei uns minutinhos com o Manuel Mexia e lá avançamos para os últimos 4 km. Mais duas subidas grandes e uma última onde estava escrito que era a última subida. Foi quase verdade. É que àquelas horas uma ligeira ascenção era já um tormento de paredão a subir heheheh.
Quando entramos no pinhal junto a Barrancos demos com o nome do trilho "Trilho da Saudade" em homenagem à nossa tão querida Analice Silva que nos deixou recentemente. É um orgulho para mim saber que esta jovem senhora que nos deixou aos 72 anos fazia todos estes trilhos com um sorriso nos lábios e uma modéstia formidável e foi homenageada, por esta excelente organização, pelo seu carisma e desempenho no desporto e na amizade para com todos nós!
A cerca de 1 km do final junta-se mais um atleta a nós dois e decidimos cortar a meta os três em simultâneo. Fantástica chegada!
Fiz os 40 km em 6h 51m com uma altimetria de cerca de 1500 D+ ficando em 53º da geral onde iniciaram 107 e terminaram 91.
Quero aqui expressar os meus agradecimentos à organização e ao Ico Bossa por nos mostrar o que bom tem esta zona e todos os belos trilhos que os circundam. Uma hospitalidade barranquenha de grande nível onde a simbiose da beleza selvagem da natureza e a naturalidade das gentes de lá nos conquistaram!
Fiquei fã de Barrancos!
Hobalhamadeus...só faltava uma lagriminha no canto do olho! hahahaha