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II Trail Iberlince Barrancos 44k 2018


Hobalhamadeus, que é isto?

Umas semanas antes deste dia 17 de novembro andava eu com a cabeça a fervilhar entre a tentação de passar uma bela noite a ouvir música num concerto do Peter Murphy, o qual acende às minhas origens de preferências musicais com a sua banda de raiz e um dia passado a empenar as pernas pela serra raiana entre Espanha e Portugal. Dois grandes valores gladiavam-se sem dó dentro de mim, dois pequenos prazeres que em tudo são enormes. Por um lado, dispensava o Trail Iberlince Barrancos de 44km por já o ter feito no ano anterior, por outro lado não o dispensava porque se o tinha adorado previa-se que este ano ainda fosse melhor. Também havia a versão do concerto, se por um lado o dispensava por já o ter visto duas vezes, por outro lado não o faria pelas saudades de o ver novamente…hobalhamadeus, que dilema.

Empurrei, belisquei, arranhei e no meio de uns valentes estalos mentais lá decidi que afinal Barrancos seria irresistível!

E de fato foi fantástico!

Na sexta-feira anterior já com tudinho preparado para rumar a Barrancos juntamente com a Dina Barroso, que infelizmente este ano optou por não participar na prova, saímos de casa pelas 16 horas chegando lá perto das 19 horas com a sensação de que no dia da prova iria fazê-la de molho, já que pelo caminho e perto do Alqueva choveu generosamente alertando-me para a meteorologia do dia seguinte.

Fomos fazer a entrada no alojamento onde já ficamos o ano anterior e fomos até ao Parque de Feiras e Exposições para levantamento do dorsal onde encontro logo o meu amigo Ico Bossa na sua tão conhecida calma. Este homem conseguiu praticamente sozinho desenhar no terreno este fabuloso percurso que saiu de Valencia del Mombuey em Espanha (conhecida carinhosamente pelas vizinhanças por Valencita), limando algumas arestas para que pudéssemos passar este dia espetacular. E ao mesmo tempo que andou no terreno teve a hombridade e o cuidado de minimizar ao máximo o sofrimento da natureza aproveitando caminhos e trilhos feitos apenas ajeitando algumas coisas, balizando e marcando no terreno o percurso.

Falamos um pouco com ele e fomos dar um passeio por Barrancos pois ainda era muito cedo para ir jantar. A caminho do centro de Barranco ouvimos um carro apitar e rimos com gosto ao verificar que eram nada mais nada menos que o Paulo Roque e a Lina Mateus, esta malta anda em todo o lado hahahaha.

Entre passeios e caminhadas no sobe e desce das ruas Barranquenhas acabamos por jantar os 4 no mesmo local, já que a escolha gastronómica local não é muito vasta. Um belo e divertido jantar com amigos!

Chega então as 8 horas de sábado…hora de embarcar no autocarro rumo a Espanha para iniciar a prova. No pequeno almoço do Hotel cumprimento o Luis Silva Silva e a Virgínia Silva. Ainda comprimento o amigo Zé Lourenço junto ao autocarro, que tinha ido acompanhar a Elena Iabanji (curiosamente só a vi já em Espanha mesmo tendo ido no mesmo autocarro) e no autocarro para além da Lina e do Paulo cumprimento a Rita Afonso, o António Gonçalves e a Fátima Gonçalves.

Despedi-me da Dina pois ela ficou em Barrancos à minha espera.

Chegado a Valencita pouco depois das 8:30 conversei, tirei fotos, quase que aqueci, mas a vontade não era muita e já vislumbrava os primeiros 12 km que seriam certamente muito corríveis (coisas que se pagam mais tarde na fatura apresentada pelos trilhos extremamente técnicos e difíceis…e o pior é que já o sabia hahahah).

9 horas dá-se a partida e perante um céu encoberto, uma temperatura fresca e uma suave brisa no ar corremos energicamente nos primeiros 6 a 7 km e depois ligeiramente com mais calma até chegar ao local de passagem através do Ria Ardila logo a seguir à divisão do Ria com a Ribeira da Murtega, apesar de já o estar a acompanhar à cerca de 4 km. Ao contrário do ano anterior que o Rio estava praticamente seco este ano já tinha uma boa porção de água e a travessia foi com água por cima do joelho. Antes de iniciar a travessia vejo na outra margem um grande e robusto javali que tinha vindo beber água a fugir de mim. Ou eu estava mesmo assustador ou o javali não se quis salpicar com a minha passagem hahahaha. Acho que não disse, mas 1 ou 2 km antes e num local plano dou um mergulho no terreno cheio de lama que até aparecia que tinha sido rasteirado…zummmm em frente a deslizar pelo chão de braços esticados, joelhos e calções marcados hehehe. Pelo menos a água refrescou as pernas e lavou os joelhos…espetacular!

A partir daqui corremos pela margem do Ardila até terminar o percurso mais ou menos tranquilo iniciando a ascensão ao Castelo Noudar pelo lado oposto ao ano anterior. Chego lá já cheio de calor e com cerca de 14 km corridos e paro no primeiro abastecimento despindo o corta vento e abrindo os bastões…pois a partir daqui a “coisa” já não vai ser tão fácil e rápida.

Uma coisa tem de ser dita, quando se sobe ao Castelo e nos viramos para trás deparamos com uma soberba vista do serpenteado do Rio Ardila por entre a Serra que nos trás verdadeiro ânimo e um brilhozinho nos olhos. É uma paisagem fantástica, quase pré-histórica!

De seguida temos uma descida longa e com bastante declive onde haviam troços com aproximadamente 75% de declive até junto ao Rio para logo iniciar uma bruta subida não deixando as pernas arrefecerem hehehe, não antes da amiga Elena me ter passado e de nos termos enganado umas dezenas de metros. Numa das partes da descida também subido um pequeno troço onde escorreguei e dei graças em já ter os bastões para me apoiar e quase que esbarro no amigo Vítor Ferreira que estava aqui a dar apoio e indicações de como deveríamos prosseguir com cautela e atenção. Cumprimento-o e sigo viagem…

Até atingir o segundo abastecimento no Parque Natureza Noudar dentro da Herdade da Coitadinha, um alojamento rural formidável faço mais ou menos 22 km e estava com um tempo espetacular de 2h35m (creio eu), mas daqui para a frente apesar do percurso ser de grande beleza é tudo menos fácil. E vagarosamente lá vou eu subido serras, escalando pedras (pedregulhos melhor dizendo) deliciando-me com o percurso completamente natural e belo divagando pelos pensamentos.

Se houve mais um abastecimento intermédio antes da ponte da Coitadinha sinceramente não me recordo (tal não era o agastamento que já tinha hahahah), mas creio que não pois aqui deveria de ter já 30 km. E eu lembro bem deste local de abastecimento do ano anterior onde se inicia (mais uma vez) uma interminável subida de grande beleza até uma casa que sempre me disseram que era dos pais ou familiares do amigo Ico e que está sempre em festa para nos receber com um carinho e felicidade especial que faz com que seja um dos locais mais agradáveis de passagem. E também por aqui, dizem eles, que só faltam cerca de 3 km até à meta, mas que na minha concepção de espaço ainda faltam pelo menos uns 6 km hehehe…é já ali…mas a subir, é claro.

Aqui passa a por mim a minha amiga Lina que nem quis parar no abastecimento. Vou no seu alcance e digo-lhe que falta pouco para terminarmos, mas que não vai ser fácil ahahaha. Conversamos, tiramos fotos, andamos, corremos puxando um pelo outro até vermos o Paulo Roque que a esperava (depois de já ter terminado à muito tempo) a cerca de 2 km da meta. Daqui eu conhecia bem o terreno até à meta e aligeirei o passo deixando-os um pouco atrás após a Lina ter dito que me ia passar hahahaha…hobalhamadeus…não deixei! Esfalfei-me a correr e quando reparei já estava junto à meta onde a Dina me esperava.

Corto a meta feliz e cumprimento o Hugo Água que fazia a cortesia de Speaker falo umas palavrinhas a seu pedido após ter anunciado a minha chegada.

Fotos, cumprimentos, parabéns, satisfações, feliz por ver a Dina na linha da meta à minha espera!

Como já tem sido habitual o prémio finisher é de grande qualidade artesanal e tudo da terra onde a originalidade enaltece a região e a fantástica senhora que nos honrou com o seu trabalho!

Terminei em 68 de 101 finishers tendo iniciado cerca de 140, com o tempo de 6h43m!

Quero aqui agradecer publicamente nesta minha crónica todo o fantástico trabalho executado pelo Ico Bossa, pelos inúmeros voluntários que sempre com um carinho e sorriso nos lábios nos auxiliaram onde foi preciso, aos bombeiros que sempre prontamente estiveram de olho em nós. Quero também dizer que os trilhos estiveram estupidamente fabulosos e com o mínimo de agressividade para com a natureza se passou um dia e prova maravilhosa.

Do pouco lixo encontrado apenas vi duas embalagens de gel que prontamente recolhi para deitar fora no lixo quando terminei.

Até 2019 Barrancos!...

Hobalhamadeus, que bela prova! Melhor não seria possível…também para o ano…será? Melhor ainda????

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