Hobalhamadeus, que é isto?
Tudo tinha começado uns meses antes da prova a 2 de fevereiro…
No final do verão, mais coisa menos coisa eu e a Dina decidimo-nos inscrever numa prova nos Açores, e que melhor prova que o Columbus na ilha de Santa Maria onde ela já trabalhou 2 anos e desde que lá saiu à cerca de 25 anos nunca tinha lá voltado.
Bem dito e bem feito…toma lá disto! Eu no Columbus Trail Marathon e ela no Columbus Trail Half Marathon.
Estadia e voo marcado lá fomos andando, ou melhor voamos até Vila do Porto em Santa Maria juntamente com a minha filha que só iria nos acompanhar e a minha cunhada que iria fazer a prova com a Dina.
Tudo correu de feição e entre o entrar num avião sair e voltar a entrar e ir aqui e acolá lá chegamos são e salvos ao aeroporto de Vila do Porto onde nos aguardava a nossa amiga Ana Marques.
Muita gente do continente neste voo, incluindo o televisivo Pedro Fernandes, o qual ainda fizemos juntos mais de metade da prova na qual trocamos várias impressões sobre os mais variados aspetos das corridas. Também tinha chegado connosco a Rita Afonso e a Ana Correia que também iriam fazer os 43 km. Muita malta dos Templários de Tomar também e vários conhecidos, tudo gente ansiosa para correr na ilha.
Primeiro dia, véspera da prova deixou-nos simplesmente maravilhados com a geografia e o ambiente da ilha. Para além da temperatura até estar bem agradável, mas um pouco mais fresca à noite estava-se muito bem por ali.
Fomos tratar de nos instalar e ir à biblioteca onde era o secretariado para levantar os dorsais. Entre as várias etapas no levantamento dos dorsais ainda tivemos de preencher um termo de responsabilidade e mostrar o nosso equipamento. Quando não é o meu espanto que vejo o meu amigo João Paulo Meixedo, um dos “Gurus” das 24 Horas Portugal em Vale de Cambra (prova esta que enquanto poder participarei sempre e com o “meu” dorsal nº13 sempre que possível), a verificar o equipamento. Claro que demos um abraço e conversamos um bocadinho. Foi quando soube que era ele que iria vassourar os mais atrasados da prova dos 43 km…disse-lhe logo a ele que só o queria ver à partida, de resto só bem depois de eu ter terminado hahahaha.
Estava na hora e após já ter tirado umas boas dezenas de fotos aqui e acolá fomos todos jantar a um restaurante junto à marina de Vila do Porto onde em convívio eu, a Dina Barroso, a Ana Paula, a minha filha, a Ana Correia, a Rita Afonso, a Ana Marques, a Sónia Tubal e mais um amigo que não me recordo do nome…hobalhamadeus…enchemo-nos de combustível para o dia seguinte.
Postas as cartas na mesa, que é como quem diz, pernas à estrada saio do alojamento bem cedo para ir apanhar um autocarro da organização junto à Câmara e onde seria a chegada, para partirmos para a Baía de São Lourenço às 7:30.
Aproximadamente meia hora de viagem por entre paisagens deslumbrantes e luxuriosas até São Lourenço e onde já me doíam os maxilares por estar sempre de boca aberta extasiado com tudo à minha volta como um bom provinciano que sou. Ahhhhh, ahhhhh lá ia dizendo por entre pensamentos…
Realmente o local de partido é simplesmente fantástico!
Encontro o João Meixedo, a Ana Correia, a Rita Afonso e a Ana Marques conversamos um pouco já nervosos com o que se iria seguir e cada um tomou conta de si…
Olho para cima e só vejo uma parede colossal à minha frente e sabia que era mesmo por ali que se iniciaria a prova…uma bela subida de cerca de 900 mts com perto de 300 D+ pela Fajãzinha até ao Barreiro para irmos depois até Santa Bárbara, também conhecida pela vila presépio.
Chegados a Santa Bárbara aos 9,5 km não consigo para de sorrir com tamanha ovação pelos apoiantes e populares que são de uma simpatia sem fim. Vou ao abastecimento como e bebo um belo chá de poejos, dou uma ou duas palavras e lá sigo pelo percurso em direção ao Pico Alto que foi coisa para mais uns 11 km até ao ponto mais alto da ilha com 587 mts e onde em 1989 (creio) se deu o tão triste acidente de aviação onde faleceram 144 pessoas. Hoje existe no local um memorium em seu respeito. O percurso até aqui foi maravilhoso, aliás todo o percurso foi deslumbrante. Eu só pensava “isto é que é trail, nunca tinha corrida em local tão bonito.” Tudo era bonito e verde, tão verde que até doía olhar. Quando após passar por vários aldeamentos onde os populares nos vão cumprimentando passo por uma estrada de alcatrão e vejo uma senhora a dizer adeus e eu fico a pensar que a cara não me era desconhecida, desço até ao poço da Pedreira onde estavam vários fotógrafos e apoiantes e no meio daquele ambiente sinto-me realmente feliz com o peito a gritar de entusiamo. E o curioso disto tudo é que ao passar oiço uma voz a dizer “força António, grande Lopes…”, ora só podia ser para mim, olho para o lado enquanto corro e salto e sorrio e vejo o meu amigo Orlando Duarte a fotografar. Fantástico! A senhora conhecida era mesmo a esposa dele…hahahahaha. Bem que me era conhecida, claro! Ai ai a falta de oxigénio no cérebro hahahahaha.
Entre o Pico Alto e os Anjos passamos perto da cascata Cai´Água e um local que não passa despercebido a ninguém que é o Barreiro da Faneca, também conhecido pelo deserto vermelho. É uma paisagem fora do normal e que nos remete para a superfície de Marte, um local árido, abrangente e no entanto belo e tranquilo. Este local de argila vermelha foi o local da última erupção na ilha.
Daqui saímos para Monte Gordo onde existe uma vigia de baleia e Ponta dos Frades onde por entre altas montanhas corremos num percurso no vale de onde se vê o ilhéu de Santa Maria e curiosamente, soube já nos Anjos, por uma casa abandonada meio metida nas rochas e com uma vista privilegiada que foi do historiador José Hermano Saraiva.
No penúltimo abastecimento no Anjos aproveitei para comer uma bela e quentinha sopa de feijão com legumes que estava uma maravilha, beber bem e comer mais alguma coisa para me fazer ao caminho. Pois já faltavam só 12 km mais ou menos.
A partir daqui e depois de passar pela baía dos Anjos onde fotografei a pintura da Sereia batida pelas águas do mar sigo por uns trilhos que me fizeram lembrar o CUT e as arribas. Muito bonito! Vejo aqui novamente o meu amigo Orlando que me fotografou e não resistindo fui prontamente cumprimenta-lo e agradecer a simpatia.
Desde aqui que o terreno deixou de ter altimetria significativa, mas foi a parte que me custou mais devido ao estado e característica do terreno. Eram uns bons kms de local de pastoreio e o solo estava muito seco e irregular devido às profundas pisadas dos frequentes bovinos existentes na ilha. Este percurso até ao abastecimento da Pista e depois até à meta foi um constante parte pernas para que ali passou.
Passo por muita gente e muita gente passa por mim…sinto-me cansado e feliz, os pés ensopados e as pernas bambas, mas sempre a sorrir, mesmo sozinho.
Algures durante o percurso e no cimo de uma longa subida está lá uma senhora de idade que sorrindo para quem passa estende a mão para darmos um “chapa” como habitualmente as crianças o fazem…e ela feliz ali ficou e eu feliz continuei o rumo que levava.
O famoso “já falta pouco” era bem frequente em cada esquina que estivesse gente e eu ria-me e chamava-lhe, educadamente e na brincadeira, “seus aldrabões, desde o início que me dizem isto hahahah”.
Chego ao último km e vejo uma placa de cartão escrita para o efeito (placa essa que mais tarde no avião uma atleta a transportava toda orgulhosa) e me dizem ”está quase…”, e de fato estava mesmo. Fui por ali a descer passando por dentro de lama e água até chegar no meio de uma multidão à meta de peito cheio de orgulho em mim e na Dina Barroso que tinha terminado a sua prova bastante bem e na 2ª posição de escalão.
Corto a meta feliz e entre os parabéns dados por toda a gente, organização, apoiantes, populares ainda sou fotografado a colocarem-me a medalha de finisher e perguntam-me se estou bem e se preciso de assistência médica ao mesmo tempo que a minha Dina toda radiante por estar na ilha e por ter terminado a sua prova tão bem e o Orlando a querer tirar mais fotografias a nós, até fico zonzo hahahaha.
As pessoas são de uma estrema simpatia, as localidades que passei bastante bonitas e cada pintada com a sua barra colorida característica, a organização ofereceu um enorme jantar bem opulento e repleto de coisas boas. Todo o percurso estava exemplarmente bem marcado!
Só deixo aqui um reparo por a organização não contemplar prémios por escalão nas provas da Maratona e Meia Maratona, deixando só esse efeito para o Ultra de 77 km…
Fiquei em 23º da geral, deu 44,100 km e demorei 6h18m a terminar!
Quando terminei o meu primeiro pensamento foi “QUERO CÁ VOLTAR”
Hobalhamadeus! Lindo, tudo lindo…
Já vos disse que é lindo? Ahhh, é verdade…aquilo é lindo!