Hobalhamadeus, que é isto?
Dia 24 de março tinha tudo para ser espetacular…e foi! Foi…um belo de um empeno que há muito que não tinha. Fui para Monsaraz confiante e saí de lá com um andar novo hahaha.
Toca a “corneta” às 4.30 para me levantar e rumo aos meus afazeres matinais para sair de casa com a Dina e a Ana Paula pelas 5:30…ou qualquer coisa mais…
Partimos de sacos aviados e equipamento meio vestido até ao castelo de Monsaraz. O ano passado apanhamos uma valente chovada pelo caminho e lá, mas este ano estava previsto bom tempo e muito calor. E assim foi…quando nasceu o sol estava espetacular, sempre de frente até eu chegar a uns 4 ou 5 km do castelo, aí…hobalhamadeus…começaram a formar-se umas bonitas nuvens escuras e levantou-se uma ventania que gelava um frigorífico…
Em pleno castelo a cumprimentar amigos como o Manuel Vitorino, Paulo Roque, Lina Mateus, Carmen Henriques e mais uns tantos que não me recordo quem hahaha levantamos os dorsais para as provas que íamos fazer, eu os 45 km e a Dina e a Paula os 25 km.
A minha prova partiu às 8:30, meia hora antes da delas…pelo menos comecei a aquecer mais cedo. Bem, não tardou um km já eu estava cheio de calor.
Este ano a prova foi francamente mais rápida na primeira metade e num percurso na sua totalidade quase todo ele diferente. Se durante uns 20 e poucos kms andei num bom ritmo a partir daí o disco mudou.
Aos 20 km estava com menos de 2 horas de prova e sabendo que a altimetria estava praticamente toda para vir fiz umas contas por alto e pensei em conseguir fazer os restantes 25 km entre as 3h30 e 4h. Coisa que se revelou correta, mas nunca pensei que me custasse tanto.
Quando me aproximava dos 20 km vejo um castelo no alto e pensei que fosse o castelo de Mourão…, mas depois pensei – Mourão? Mas isso é no lado de lá do Alqueva…então? Era mesmo o castelo de Monsaraz. Estava tão esganado que nem reparei que o castelo era o mesmo…fónix!
Como o percurso este ano foi todo ele alterado ainda pensei que fossemos fazer mais uma volta…, mas rapidamente acreditei que não pois até ALI só tínhamos cerca de 600 D+, onde estavam os restantes 1200 D+? Pois não seriam numa outra volta igual certamente. Pumba, bem-dito e bem certo…após uns dois ou três kms começamos a apanhar cá uma esfrega com um constante sobe e desce UI UI…
Resumidamente até ao 3º abastecimento junto aos 25 km foi mais ou menos tranquilo, mas muito rápido. Se não estou em erro a partir daqui tivemos 11 subidinhas generosas e outras tantas mais simpáticas que nem as contei. Sinceramente já nem sei se foram só 11 ou se nem sequer chegaram a tanto hahahaha…sei sim que a primeira coisa que me doeu depois da “outra” primeira coisa que já doía (uma dor na anca esquerda desde os 10 km…) foi mesmo o pescoço por estar sempre a olhar para o chão. Se era a descer olhava para o chão para evitar cair, mas sem deixar de dar uma graçola ou duas nuns tropeços parvos como tudo. Ora se era a subir também olhava para o chão porque assim evitava ver o fim (sem vista possível…) da mesma. Hobalhamadeus para estes “cabeços” num Alentejo (já dizia o meu pai – olha que o Alentejo não é só sobreiros e prados sem fim…) irrequietamente liso como um queijo suíço e plano como uma sinusoide após ter sida achatada por um comboio… (quase que me perdi agora hahaha).
Não sei se foi dos palavrões que ia proferindo mentalmente se era daqueles que ia dizendo em alto e bom som, mas sei sim que estava sempre com a boca seca. E nem sede tinha… Também podia ser do pó levantado a cada passada nossa num arrastamento de sapatilhas constante, ou talvez mesmo por causa do calor que se fazia sentir. Sim porque apesar de manhã cedo estar a fazer um vento bem chegado ao gelo depois o sol descobriu com toda a plenitude e quase que assava aqueles teimosos que por ali andavam a queixarem-se por tudo e por nada para dar desculpas ao cansaço que se abatia sobre nós. Cheguei a um ponto entre o 4º e o 5º abastecimento que só desejava colocar a cabeça debaixo de água, nem sequer sede tinha, mas um belo “duche” fresco vinha tanto a calhar…
Ainda um pouco antes do 4º abastecimento, a cerca de 1,5 km entre o final de uma descida e o início de uma subida dei com um atleta deitado no chão e duas atletas meio aflitas a tomarem conta dele e a pedirem água a quem passasse. Eu prontamente parei e perguntei o que se passava, mas como ele não conseguia falar, elas responderam que precisava de água. Fui-lhe prestando a assistência possível dando aos poucos água para que ele pudesse sentir a garganta molhada até ele quase conseguir falar. Entretanto passou um atleta que lhe entregou uma garrafa com um pouco de água também. Foi-me dito que já tinham comunicado com a organização e assim que saí do pé deles vejo os bombeiros a uns 400 mts de distância e disse-lhes onde ele estava. Soube mais tarde que os bombeiros ao carregarem com ele na maca ainda tropeçaram (parece-me) e acabaram por ir todos ao chão…hobalhamadeus, espero que tenha sido só essa situação.
Entretanto nesta segunda parte da corrida que mais parecia um emaranhado de teias junto às serras circundantes ao castelo de Monsaraz oiço constantemente o speaker do evento (o meu amigo Hugo Água, que teimosamente chamo-lhe quase sempre Rui Águas…hahaha) …isto já são coisas da idade. Ou seja, parecendo que estava sempre perto…estava mesmo perto, mas sem lá chegar. Foi como, creio eu o último abastecimento que o via pertinho a cerca de uns 300 mts e demorei uma eternidade a lá chegar assim os 2 kms e tal pelos trilhos…. Cheguei a um ponto que até pensei que tinha sonhado com o abastecimento.
Ainda no 3º abastecimento passa por mim a Carmen Henriques e o Manuel Vitorino…fónix, não tenho pernas para esta gente. Olhem pelo menos ia aproveitando para comer bem nos abastecimentos e digo já que o presunto era uma maravilha, só faltaram ali umas minis…bolas.
Mais à frente apanho o Manuel Vitorino que se ia sentindo um pouco mais moído que eu e não tinha bastões. Não fazem milagres, mas que ajudam, ajudam!
Havia também um camarada que durante a prova ia-me passando e depois eu a ele e assim vice-versa até quase ao último abastecimento onde segui e ele foi ficando para trás. Mais tarde na meta foi-me cumprimentar e dar os parabéns. Ainda conversamos um bom bocado durante o avança e retrocede…
Chego finalmente à meta radiante por ter terminado a prova e começando a chover ligeiramente sou recebido com forte aplauso assim como pela minha Dina que, coitada estava toda empenada pela prova dela…e eu???? Empenadíssimo hahaha
5H54m depois de ter partido chego à meta em 50º lugar entre 98 finishers após terem partido mais de 150 atletas…
Há muito que não me sentia assim tão partido, dorido e empenado…ai ai este Alentejo planíssimo hahaha
Hobalhamadeus!...